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sábado, 19 de junho de 2010

... Diga sim pra mim ...

Os olhos de Clarice brilhavam como os de uma criança que ganha o tão esperado presente, e eu sabia que os meus, sem dúvida nenhuma, encontravam-se da mesma forma... Enfim, saímos da nossa loucura particular e alheia do CaféTina e estávamos quase sós. É... Quase, por que afinal de contas, estávamos na casa de mamãe ainda, e na casa de Dona Alice, nunca, never, jamais, é possível manter qualquer tipo de privacidade, menos ainda a que eu e Jam precisávamos naquele final de semana...

Clarice estava radiante, ria de tudo e sorria para todos, até mesmo o Dudinha, que por sinal estava consideravelmente "gripado" - se é que seja possível um cachorro ficar de fato gripado -, estava recebendo toda atenção do mundo de Jam. Ela trouxe nossas malas para o meu antigo quarto, eu estava fuçando no meu antigo closet a fim de localizar alguns Dior's e Gabbanas que eu havia deixado para trás na ocasião de minha mudança de pais, enfim, achei algumas coisas que procurava e virei-me para Clarice:

_ E então amor, preparada para partir?
_ Hãn?! Como assim partir? Chegamos tem só duas horas aqui.
_ Claro baby, não vá me dizer que você achou que iríamos mesmo ficar aqui no pequeno castelo de Dona Alice?
_ Ah, não vamos não?
_ Claro que não l'amour... Vamos pega sua mala aí e vamos...

Meio sem entender muita coisa, Jam pegou as malas que havia acabado de colocar no pé da cama e olhou para mim um tanto quanto perdida.

_ Vamos linda, o carro que pedi pra alugar já chegou!
_ Pra onde vamos afinal?!
_ L’amour de ma vie, apenas venha!

Fomos em direção ao carro estacionado na entrada da casa de mamãe e após as despedidas partimos então rumo ao Pullman Paris Tour Eiffel. Chegando lá, parecia que estávamos entrando em um imenso conto de fadas... Da sacada, a visão não era apenas perfeita, era inenarravelmente linda e estonteantemente apaixonante! Eiffel pintando o céu ao fundo, champagne, um balde de gelo, duas taças... Assim começou nossa viagem a cidade luz. Abracei mon petit, como se o fizesse pela primeira e última vez, não disse nada, ela não disse nada... Ficamos ali abraçadas, contemplando Paris e todo o seu glamour inato...

_ L'amour... Quer deitar um pouquinho? A viagem foi bem cansativa, e pelo que percebi você não deve ter dormido de ontem para hoje também...
_ Confesso que você me pegou de jeito com essa viagem... Eu realmente não esperava...
_ Se fosse para você saber, não era surpresa né petit?!
_ Rsrs... Com certeza!
_ Então... Hehe
_ Mas vou aceitar a oferta de descansarmos um pouquinho. Realmente estou acabada!

Fomos nos deitar, e basicamente sem nenhuma demora, Jam adormeceu em meu colo... Lentamente, sai de seu lado na cama, tomando todo o cuidado do mundo para não acordá-la. Tinha meus planos para colocar em ação aquela noite... Me troquei e e desci na recepção...

_ Bonjour!
_ Bonjour Madame! Como posso ajudá-la?
_ Daqui a aproximadamente duas horas, vou mandar um carro entregar uma peça de roupa e um pacote na cobertura que estou hospedada. Preciso que cuide da entrega dele com muito cuidado e distinção, deve ser entregue nas mãos da senhorita que esta hospedada comigo. O carro ficará aguardando-a na vaga que o meu esta agora. Tudo bem?
_ Sem problemas, cuidarei pessoalmente! Algo mais em que eu possa te ajudar?
_ No momento, apenas isso. Muito obrigada!

Saindo do hotel fui correndo de volta para a casa de mamãe... No caminho, liguei...

_ Mãe, estou chegando já hein...
_ Tudo bem L'amour, já estou pronta... Na verdade nem sei por que estou te ajudando nisso né Baby, é uma evidente loucura!
_ Porque você me ama e quer me ver muito feliz!
_ Rs... Isso mesmo! Único motivo que me move a participar dessa insanidade...
_ Também te amo mãe... Estou há dois quarteirões daí!
_ OK. Estou indo para a porta...

Peguei Dona Alice mais linda do que nunca na porta de casa e fomos para a famosa “Rue de Passy”. Passamos em inúmeras lojas e mais ou menos duas horas depois, estava eu com dois vestidos de gala do Dior nas mãos e alguns sapatos Prada em muitas sacolas. Voltamos para a casa de mamãe, liguei para a limousine, escrevi um bilhete - “L’amour, tem um carro te aguardando na vaga que o meu estava estacionado, ele já sabe o endereço para o qual você deve ir. Desça às 20h para o carro, estarei te esperando no local combinado. Ah, e não adianta perguntar para o motorista, viu?! O silêncio dele esta comprado, rsrs. Bisous, Je t'aime!” - e cuidei para que corresse tudo conforme havia combinado com a recepcionista do hotel.

Nunca tinha me dado conta disso antes, mas, realmente, minha mãe tinha basicamente um salão de beleza dentro de casa! Bom, eu que não sou boba nem nada, usei e abusei da saudade dos parisienses residentes na casa de Dona Alice e quando era por volta de 19h10, estava pronta e linda para a noite mais especial e importante da minha vida.

Meu celular tocava freneticamente. Sim, era ela. Clarice já tinha me ligado um zilhão de vezes, mas, eu não poderia estragar a surpresa e a idéia era não nos falarmos até então. A hora estava chegando, dentro de mais ou menos meia hora já nos veríamos e então ela saberia para onde estava indo, e o porque eu havia feito tudo isso. Estava na minha hora de ir, afinal, Paris não é São Paulo, mas, pelo que notei, o trânsito não anda respeitando os limites territoriais Brasileiros. Respirei fundo...

_ Mãe, estou indo!
_ Nunca pensei que fosse dizer isso, mas, estou emocionada com tudo isso e muito, muito, muito feliz por você Baby! Por favor, amanhã você venha aqui, aliás, vocês. Quero saber de tudo!
_ Rsrs... Ai, ai.. Dona Alice Fernandes. Estaremos aqui amanhã para o jantar... Te amo mãe! – Abracei-a da forma mais doce e calma que consegui naquele momento...
_ Também amo você mon petit...

Beijos e abraços depois, estava eu a caminho do Le Jules Verne indo ao encontro de ma belle...



Eram 20h em ponto quando o motorista ligou-me avisando que mon petit estava a caminho. Míseros cinco intermináveis minutos depois, a limousine estava estacionando a minha frente ao pé da Tour Eiffel... L’amour esta mais bela do que em qualquer outro dia que a vi, esta linda, maravilhosa, parfait! Ma belle veio andando até mim da forma mais leve e doce que nunca a vi caminhar, estava impecavelmente vestida com o Dior que eu havia lhe mandado e basicamente flutuava em minha direção...

_ Bonne nuit ma belle...
_ Bonne nuit… - Respondeu-me Jam com um delicado toque de seus lábios nos meus...
_ Allons-y princesse?
_ Oui L’amour...

Entramos e fomos até a nossa mesa. Que lugar lindo! Que vista maravilhosa... 2° andar da Torre Eiffel... Impecavelmente perfeito o local escolhido para a ocasião! A noite correu de forma agradável e mágica, as luzes de Paris, os vinhos, as músicas...


Olhei para Jam e ela estava deslumbrada com tudo aquilo, sua emoção sendo traduzida em olhares sedutoramente apaixonados por aquele clima de romance e sedução que nos envolvia... Segurei sua mão como quem pega em uma peça de porcelana, e olhei fixamente em seus olhos... Com a outra mão, peguei uma pequena caixinha dentro da bolsa... Respirei fundo...

_ Ma belle... Você não é só tudo para mim, é também meu mundo. Meu norte, meu sul... Eu não saberia aonde ir, e nem como viver sem você por perto. Você me agradeceu mais cedo por salvar a nós, e eu pretendo fazer isso não só mil vezes, mas, todos os dias da minha vida! - ... Respirei fundo... - Je t'aime trop mon amour ... E... Agora sou eu que pergunto ... A accepté de me marier?


sexta-feira, 11 de junho de 2010

- Voyage, L'amour.

Passei a noite em claro, afinal, não é assim apenas juntas umas trocas de roupa e sair da Augusta para Paris.
Bom, achei que não fosse assim, mas Sophia fez isso acontecer.
Coloquei um dvd do Rivers, acendi meu cigarro, abri o vinho e comecei a batalha com meu closet improvisado. É, 4h10 e tudo pronto, fiquei sentada aguardando minha quase querida sogra e ela chegarem.
Tomei alguns remédios que vovó sempre receitou em viagens cansativas.. bom, não era para Groelândia, mas tinha Alice por perto, melhor remediar mesmo.
Sophia chegou pontualmente, como de costume. Mais uma vez, prometi que não deixaria nossos desencontros estragarem essa viagem, rezei uma Pai Nosso e respirei fundo.
No caminho até o aeroporto, Sophia e Alice conversavam muito sobre restaurantes, lojas, penas, casacos, couro, bolsa e claro, sapatos. Nada que despertasse minha vontade de interagir. Fui bem quieta, pensando em tudo que estava acontecendo.
Um pouquinho de espera e aquela voz amanhecida da moça anunciando as partidas, era nossa vez de voar.



A sensação de voar é tão gostosa. Aquele friozinho na barriga, poder olhar tudo de cima.. melhor ainda olhar pro lado e ver a mulher da sua vida (tudo que se olhasse mais do lado veria a minha querida sogra, mas vamos pular essa visão). Sophia fico de mãos dadas comigo basicamente o tempo todo, por algumas horas esqueci de tudo que ficou para trás.. era eu, minha pequena e aquela viagem. Todas as expectativas, todo o glamour de Paris, apaixonantemente nos recebendo (falei glamour?), realmente, um lugar perfeito para a primeira viagem juntas.
Meu francês não é dos melhores, mas tinha minha petit por perto, não precisaria de muito.. um "Je t'aime" garantiria um bom começo ao lado do l'amour de ma vie.
Sophia me pegou de jeito com essa viagem, mesmo que fosse pra qualquer canto do Brasil, mesmo que me chamasse pra festa de Barretos.. tudo que eu precisava era de um tempo com ela, como era antigamente, nós e nossos vinhos, os beijos, um pouco de trégua em meio ao caos daquele Pub.Havia em minha toda esperança em um final de semana dos sonhos. Sophia sempre cumpriu suas promessas, tinha certeza que seria perfeito.


Chegamos em Paris, Alice parecia estar bebendo da fonte da juventude, ficou mais bela, até mesmo mais simpática, por incrível que pareça. Segurou em meu braço e pela primeira vez pude ver um olhar carinhoso.
As ruas da Cidade Luz são acolhedoras, graciosas, cada detelhe, cada cor.. Como se estivesse na pele de Amelie Poulain caminhei com toda leveza nos movimentos.
Sophia me olhava com certo ar de realização, sabia o bem que tudo aquilo estava me fazendo, sabia o quão era importante estar com ela, seus olhinhos brilhando, me chamando de L'amour.
Tudo ali era tão familiar e novo, em pouco minutos reconheci cada esquina já percorridas em livros e sonhos.
Já no pequeno "castelo" da Rainha Alice I, conheci Dudinha, uma graça cachorro, ou melhor, "filhotinho-mais-lindo-da-mamãe". É, a insensível Clarice Bittencourt estava leve como uma pluma e cheia de amor, até pelo tal animal membro da família. Sophia parecia espantada com meu lado femme, ria o tempo todo, até palpite sobre Renoir eu dei.. hahaha, as coisas estavam mudando.

Fomos para o quarto, abracei bem forte ma belle e sussurrei calmamente: "obrigada por nos salvar".. Sophia me beijou com toda delicadeza do mundo e disse: "faria isso mais mil vezes só para ver esse brilho no seu olho..". Meu coração estava batendo bem forte, com todo aquele calor dentro dele.


[ Clarice ]

sexta-feira, 4 de junho de 2010

... Dia "D" ...


Uau... Clarice vindo me buscar para uma conversa? Com certeza não é coisa boa, aliás, provavelmente é coisa péssima! Será que eu fiz alguma coisa de errado? Ela me chamou de Sophia! Pior ainda... Desligou o telefone basicamente na minha cara! Mas... Não! Não pode ser... Eu não fiz nada de errado não... Será... Será... Que ela quer terminar?! DEOS! Confesso que apenas de pensar nessa possibilidade o pânico automaticamente tomou conta de mim, e acredito eu, que meu desespero tenha sido expressado fisionomicamente, pois, até mesmo mamãe percebeu que algo estava errado!

_ Baby?! O que aconteceu? Quem era no cel?
_ Ainda não aconteceu nada mãe, mas, era a Clarice.
_ E por que você esta com essa cara amor?
_ Olha... Ainda não sei qual é, mas, com certeza uma catástrofe me aguarda assim que ela chegar aqui!
_ Nooooooooossa Baby! Porque?
_ Mãe, ela esta vindo me buscar para uma “conversa”, e desligou o telefone basicamente na minha cara!
_ O que? Como assim?
_ Assim... Falou tchau e desligou...
_ Eca! Que grossa! Eu falo que essa menina não é para você! Eu já não ligo mais para sua opção sexual, até acho bonitinho de vez em quando, mas, você é uma lady Baby, não podem desligar o telefone assim na sua cara. Isso é “O” cúmulo!
_ Mãe, por favor! Não é hora disso, e outra... Esqueceu o que havíamos combinado?
_ OK amor, mas, deixo registrado que acho isso um absurdo!

Antes mesmo que eu pudesse registrar na ata do dia , mais uma reclamação de mamãe com relação a Jam, a campainha tocou... Admito que respirei fundo duas vezes antes de me movimentar para ir até a porta...

_ Mãe, please! Seja dama, sem desdém por hoje, OK?!
_ Serei uma lady! Prometo...

Abri a porta e lá estava ela...

_ Oi amor! – Disse eu, tentando parecer calma...
_ Oi.
_ Hãnnn... Você quer conversar lá no quarto ou prefere sair para algum lugar?
_ Pode ser lá no quarto mesmo...

Entramos em casa, e fomos em direção ao nosso quarto...

_ Olá Alice! Você esta bem?
_ Oi Clarice... Estou sim, e você querida?
_ Ainda não sei bem... – Disse Jam me puxando para dentro do quarto...

_ Sophia, precisamos realmente conversar. Me desculpe se pareci, ou se até mesmo fui grossa ao telefone, mas, esta consideravelmente engasgado.
_ O que aconteceu?
_ Não aconteceu, e isso é o que esta me matando!
_ Acho que não entendi... Eu fiz alguma coisa que você não gostou?
_ Mais ou menos... Não, na verdade você não fez nada, e o problema é justamente esse! Eu já não sei mais o que você quer! Você nunca respondeu aos meus pedidos de casamento e isso sinceramente já esta ficando chato!
_ Nossa Clarice, por que você precisa sempre ser assim, tão grossa comigo? Aff... E outra, você sabe muito bem com quem eu quero ficar! E se não sabe é por que fecha os olhos para a realidade, e não por nenhum outro motivo! Você sabe tão bem quanto eu tudo o que tem acontecido nos últimos dias, aliás, no último mês!!! Até seqüestrada eu fui Jam! Custa realmente muito você ter um pouquinho mais de compreensão e paciência?
_ Mais ainda? Até quando vou ter que esperar Sophia?

Antes que eu pudesse responder, mamãe bateu na porta e entrou no quarto, visivelmente preocupada...

_ Baby, eu preciso ir embora! O mais rápido possível... Aconteceram sérios problemas lá em Paris com o Dudinha...
_ Mãe, eu estou no meio de um grande problema! O que de TÃO sério aconteceu com seu cachorro?
_ Não fale assim Sophia! Ela já é da família... Sabia que não devia tê-lo deixado lá... Vamos Baby, por favor... Me leva para o aeroporto agora... Preciso comprar passagens para o vôo mais rápido possível, amanhã mesmo se der!

Olhei para Clarice, ela me encarou carrancuda por alguns segundos...

_ Viu?! É exatamente disso e isso que eu estou falando Sophia! Ou você é minha ou não é! Porra, to de saco cheio de dividir você com todo mundo! – já virando as costas e saindo do quarto, acrescentou... – Quando você tiver um tempo de verdade pra mim, e uma resposta definitiva para me dar, me procure!

Jam saiu do quarto e eu fiquei sentada na cama por alguns poucos minutos, tentando ainda assimilar o que havia acabado de acontecer entre nós... Pensei muito enquanto me trocava para sair de casa, e sei que ela tem razão, só não sei como solucionar toda essa confusão em que estamos vivendo... Bom... Hum... E se eu... Será? ... Acho que ainda conheço o lado neo-romântico irremediável pelo qual me apaixonei em minha pequena! ... Já sei!

Voei para a sala e apressei dona Alice, saímos ambas correndo do apê rumo ao aeroporto e dei a sorte de conseguir o que eu queria... Aliás, eu e mamãe... Voltamos para casa e fui para o PUB ver Clarice... Colocar o meu “plano” em ação!

_ Amor, desce aqui no PUB. Aconteceu uma coisa...
_ O que? O “Dudinha” morreu?!
_ Desce, por favor!
_ Hunf! To indo...

Me sentei em uma mesa qualquer e esperei Jam aparecer por lá. Não demorou muito e ela desceu, com uma linda carinha de sono...

_ O que aconteceu Sophia?
_ Bom, vamos direto ao ponto... Vou para Paris com minha mãe amanhã para passar o final de semana...
_ Aff! E você vem até aqui e me tira da cama, nesse frio do cacete, para me contar essa ilustre viagem? Pois saiba que se você pegar um avião amanhã para lá, esta literalmente e totalmente solteira!!!



Tirei a passagem da bolsa e a coloquei em cima da mesa...

_ E... Você irá comigo! Essa é sua passagem... Passo aqui para te buscar às 05h00. Não aceito questionamentos e muito menos um “não” como resposta!

Jam permaneceu calada e consideravelmente atônita com a situação... Levantei e lentamente fui até ela, peguei a chave do carro de cima da mesa e sussurrando, disse: “Vai ser o melhor final de semana da sua vida!”. Beijei-a no canto da boca, e fui para casa arrumar as malas...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lacerda VERSUS Barata mutante radiativa shaolin #Felipe Lacerda

Preciso me confessar. Sério. Tem gente demais dizendo que eu sou fodão, isso e aquilo outro, que eu acerto vidraças com pedrinhas, que coloco bombas em notebooks, que roubo bancos com disquetes e e outras peripécias dignas de um Macguyver da vida. MAs não é bem assim. Ahg, se soubessem... Por isso preciso muito contar o que me ocorreu hoje. E vamos do início: Quando a Consciencia Cósmica da Auto-Adoração me criou, percebeu logo o tamanho da merda que fez. Então ele(a) decidiu que precisava me sacanear e criou as baratas. Sério, as baratas. "Medo" eu tenho de coisas realmente assustadoras, como Ballet Clássico, Música Escocesa, Russas Gordas, Gaita de Fole e Garotas na TPM (cara, imagine uma bailarina escocesa gorda na TPM tocando gaita de fole?).
De baratas eu tenho pânico crônico, um terror misterioso que me assola de corpo e alma, dramático que sempre fui. E não é pra menos, tenho aversão total à imundície de qualquer espécie. A Dra. Sophie  (terapeuta do senso comum) diz que é coisa de infância. Mas psiquiátras são loucos e eu não pagaria um cents a esses advogados disfarçados de Freud Flinstone. Ainda bem que minhas análises com a Dra. citada são pagas com Brahmas geladas.
Pois bem, o Universo conspira contra quem o teme. E eu, senhores e senhoritas, tenho mais medo do Universo que de qualquer outra coisa que rasteje por aí.
Mas estava eu lá no Pub ontem, tentando disfarçar na fumaça do óleo diesel minha inaptidão à raça humana, e preparando meu guisado culinário de sobrevivente preferido.  Basicamente, é um manjar de origem grega que os antigos egípcios chamavam de Adoração Máxima ao Poderoso Deus Porco, e eu que nunca fui de reverências eclesiásticas, chamo de Bacon Com Tudo.  A receita é prosaica de tão simples: Fatia-se uma quantia considerável de Bacon com queijo e adiciona-se na mesma panela, fritando, tudo o mais que houver de comestível  na casa (aconselha-se evitar o cachorro e aquele piriquito idiota que seu pai adora). Aí mistura-se tudo (ainda na mesma panela fritando) com uns dois pães de sanduba. Só não use aqueles com gergilin porque o resultado das sementinhas fritas pode ser um belo prato de alpiste torrado.
Enfim, que o tempo me urge aqui nessa terra fria pra caralho, estava eu com um delicioso mega prato dessa delícia gastronômica e os DVD's da primeira temporada de Gilmore Girls, um maço de cigarros e Fanta Uva.
Estava  mais que preparado para uma noite de edificante alienação quando minhas anteninhas de vinil captaram a presença do inimigo. Entre as panelas da pia, matreira, se agitavam duas anteninhas diabólicas, prescrutando minha refeição dionísica. Cuidadosamente para não derrubar uma porção de fritas que transbordava do prato, coloquei-o sobre a mesa e me virei em silêncio para a vassoura como um velho ninja. O terror começa a se apoderar de minha alma e eu ali de cuecas segurado uma vassoura,  o poderoso ninja pelado, incapaz de atacar aquele alien gosmento. Pensei em correr em pânico implorando ajuda, mas matutei que pegaria mal um homenzarrão como eu correndo de cueca pela rua em plenos pulmões: "_Tem um bicho asqueroso na minha cozinha! Socorro!"
Não. Ponderando bem, chego à conclusão que preciso ficar e lutar como um homem. O que dirão à posteridade? Que o Grande Supremo Patife, senhoro dos epítetos, canalha mór da república, se borra todo de medo de uma baratinha?
Ora essa, mas nem fodendo.
Então me aproximo da pia, tremendo de frio e pensando em me agasalhar, mas vai que a desgracenta foge? Ou pior, vai que ela busca reforços? Não, ficarei e lutarei. O médico quando nasci bateu na minha bundinha, mostrou o bililiu pro mundo é falou: "É MACHO". Não hei de decepcioná-lo. Somos apenas ela e eu, e um dos dois não sairá vivo dessa noite fatídica. Eu a encaro, erguendo a vassoura, ela me olha com seus olhinhos multifaceteados. Uma bola de feno pássa rolando ente nós. Eu dou um passo, ela estribucha as antenas como se dissesse: "O que você PENSA que está fazendo?".
Estou próximo da pia, sinto o cheiro de Bacon e colesterol, meu cosmo infla, o ki se potencializa, estou pronto, reteso os músculos empunhando minha mortal Vassoura Vingadora, levanto-a acima de minha cabeça, faço a melhor cara de mal e....
Acerto a lâmpada. Em cheio. Assustamos ambos e recuamos. Ela se embrenhou pelos pratos e o escorredor de arroz. Maldição. Mas eu tenho tutano. E como sou muito do cerebrudo, resolvo usar uma arma menor. A cozinha é pequena e não queremos quebrar mais nada.
Pego o garfo. Vou empalar a bichinha agora que ela me custou uma lâmpada de 100watts, nem que seja a última coisa que faça nessa vidinha mais ou menos. E fui, eu e o garfo, pé ante pé. E lá estava ela, meio ocultada por um macarrãozinho e uma casca de cebola. Dei-lhe uma vigorosa garfada, que só fez trincar o copo que estava embaixo. Entao desferi outra e outra, mais uma e mais outra, e logo estava como um serial killer esfaqueando a pia com um garfo, respingando água por todo o arredor, com uma fome voraz de destruição, como se a barata fosse o próprio alemão e sua maldita relativiade. Ataquei inúmeras vezes invocando gritos de guerra dos antigos habitantes de Naboo, guerreiros carnificeiros que não temiam baratas. E fui atancando até ficar exausto, o garfo firme no punho cerrado, o olhar injetado de ódio, o rosto coberto de uma água acinzentada, um simbólico sangue do inimigo.
Recuei como um recém desperto do Frenesi, desfalescendo na parede oposta à pia, exaurido e sujo. Porém, vitorioso. Sorrindo deliciado ao imaginar a barata dilacerada entre talheres e restos de comida.
Escorrego pela parede e me sento, observando ante a mim os espólios da batalha, uma amontoado de destroços na pia, o garfo ainda firme na mão, o sangue voltando as veias da face.
Foi quando ouvi o prato se mover. Dos escombros saiu uma patinha, meio torta, vacilante, erguendo-se ainda com vida. Levanto-me, invocando mais forças. Não havia terminado.
Posicionando-se como um herói de guerra, arqueada pela patinha entortada, a baratinha me olha nos olhos clamando por vingança. Ela faz Squiic, squiic.
Certo, eu sei que baratas não fazem squiic, squiic. Esquilos fazem squiic, squiic. Mas o rap é meu e boto a rima que quiser. Além do mais, quando fizerem um filme sobre mim é só chamar um esquilo para dublar a barata. E voutando ao rap... a barata ainda estava de pe´. E eu tambem, razoavelmente. Digo Essa cozinha é pequena demais para nós dois e ela responde com outro squiic, squiic.
Aí eu saio desembestado pela porta dos fundos, deixando-a pensar que havia me derrotado, e meio segundo depois retorno com uma mangueira de jardim, semi-automática, mira hidráulica, tambor giratório. E o tema do Exterminador do Futuro ao fundo.
Ela faz cara de "Mais hein?" e eu começo a atirar feito um louco psicótico, praguejando contra tudo e todos, principalmente contra o imbecil do Einstein que exterminou toda forma de vida em Hiroshima com sua bombinha de São João, menos as highlanders Baratas.
E tudo quanto é canto que a nazarenta se metia, lá ia água aos esguinchos e minha gargalhada doentia, enchendo tudo de água, a cozinha toda. Atrás da geladeira? àgua nela. Se meteu debaixo do fogão? Água! Subiu pela parede? Mais Água!!!!
Em poucos instantes a cozinha estava alagada, as paredes ensopadas, os móveis encharcados, meu corpo gelado parendo um pintinho molhado, mas eu não pararia até ver a aquele Satan Insetoforme afogada.
Foi aí que descobri, estupefato, que as baratas são anfíbias. Se não são, essa aqui tem um pulmão desgraçado. A ignóbil invertebrada passava ora nadando de peito, ora surfando num talher, edbochando da minha imbecilidade evidente, clara e obviamente. Decidi que para o inferno com a lealdade, eu ia era pegar pesado e jogar sujo. Esse acordo de cavaleiros está me fodendo e eu estou pingando demais pra ir na sala pausar o DVD. O negócio é ficar e lutar bravamente, impávido, sem recuar nem ceder, até a morte minha ou dela. E por Deus, essa barata conhecerá ainda essa noite seu Deus, o Baratoso-Mór, seja lá em que inferno.
POr fim, num ataque de cólera digna de um Oscar, encantuo a bichinha embaixo da pia. O jato de água está fraquejando, a mangueira deve ter se dobrado em algum ponto, mas ela está lá, cabecinha pra fora tentando respirar. Prendo a mangueira na porta da geladeira. Pego o martelo de bife. Hoje supero meus traumas ou não me chamo Lacerda. Me aproximo sentindo o gosto de sangue na boca, a fome de Vendetta, o prato que se come frio (frio deve estar o Bacon nessa altura). O martelo será seu fim, insetóide de merda.
O esguincho que a mantinha presa fraquejou bastante. É agora ou nunca, minha cara. Foi um prazer duelar com você, uma nobre adversária. Mas os bons sempre vencem. E eu sou o melhor aqui, cazzo.
E quis o destino, que sempre luta à favor da comédia e da ironia, que a excomungada da dita cuja, num esmerado golpe de capoeira, dá um 360º no martelo e, uma vez livre do jato d'agua, põe-se a galopar insanamente pelo cabo do martelo.
Corajosamente em pânico, arremesso o martelo contra a janela, que por infelicidade encontrava-se lá, intacta, até o instrumento de ferro maciço irromper em sua direção. Ela não reagiu, foi atingida em cheio. Afinal, para onde uma janela fugiria?
Mas a barata, aquela (já não encontro adjetivos), se alojou seguramente em meu punho, espertinha, não querendo cruzar o céu naquele projétil improvisado. Ao perceber a proeza da melindrosa, danei a sacudir os braços, confesso não sem certo rubor, como uma bicha louca.
A barata vou pela cozinha em câmera lenta e mais uma vez sumiu entre as panelas. Voei pra cima como um demônio enraivecido, tão revoltado e irado quanto um playboy que o pai cancelou o cartão de crédito. Parecia um verdadeiro psicopata ao tentar amassá-la com uma frigideira que ainda pendia no canto um daqueles malditos pedacinhos de ovo que ficam agarrados. Eu era um homem com uma missão.
Depois de contar treze frigideiradas e perder a conta dos palavrões, inclusive inventando alguns novos, a filha-de-uma-inseta-puta-emo-fã-de-Elton-Jhon finalmente sucumbe aos meus golpes fulgurosos de Kung-Fu, técnica Shaolin Gourmet do Norte. E por fim caí, derrotado, na água empoçada ao pé da pia. Aliás, por toda cozinha.
Ainda com a frigideira em riste, me sento no chão bufando sem fôlego como um fumante transando com duas lésbicas (hamn... esquece a metáfora).
Mas vitorioso, o homem da casa, matador de baratas, um deus grego entre vasilhames sujos. E lá vem o cadáver da barata boiando em minha direção, inerte como todo cadáver, à mercê do verdadeiro açude que se formou ali. E a mangueira meio frouxa, mas ainda jorrando.
A baratinha veio boiando, rechonchuda, opulenta e grotesca, um boi em miniatura. Os olhos esbugalhados de tanta porrada.
Ela pode estar viva ainda, penso eu no improvável. Elas sobrevivem à radiação e essa aí respira embaixo d'agua. Além do mais, se ela for fêmea é ainda mais perigosa, porque além do natural e instintivo ódio por mim, todas as mulheres sangran cinco dias direto e não morrem. Porque essa barata morreria com garfadas, jatos d'agua e frigideiradas? Não...eu sou arisco e mamãe me ensinou a ser mais esperto que isso. Macho, lembra?
Estico a perna com certo custo (os músculos doem). O suposto cadáver vem, boiando como uma canoa à esmo. Mas ela pode estar fingindo, a infeliz.
Então aperto a sola de meus pés no corpo dela, espremendo-a no chão. A gosma que saiu de seu corpino gorducho lambuzou todos os meus dedos e encheu a água ao redor de um amarelado verde catarro.
Agora ela está morta. O pesadelo acabou. Ela não pode ser tão highlander assim. Nem se fosse a barata de estimação do Chuck Norris.
Vocês devia ver o sorriso de satisfação que se abriu em meu rosto, de cuecas no canto de uma cozinha alagada. Claro que meu sorriso de júbilo foi logo desmanchado pela visão encharcada do meu Bacon Com Tudo, que agora se classificaria como Sopa de Porco.  (IIIRK!)
MAs competir o caralho, o importante é vencer. E eu venci. Vim, vi e venci. Só não comi, mas isso não importa. Tem mais bacon e queijo na geladeira. E talvez eu possa repensar o que disse sobre o cachorro e o piriquito. O problema é que só vou sair daqui quando o verão chegar e minha bunda se descongelar do piso.
Mas como disse, nada disso importa. Eu venci com louvor. 
Para comemorar, um cigarro, meus senhores. Como o Oraculo de Piton, aspirando a fumaça para enxergar onde os mortais não viam. Sem que nada pudesse me aborrecer, retirei o único cigarro mais ou menos seco e jogo o maço fora, que vai boiando pelo afluente culinário.
Vão em paz, meus filhos. Vocês lutaram bravamente.
Coloco trêmulo o cigaro na boca, meio torto e broxa, mas ainda assim um insubstituível Hollywood, o cigarro do sucesso. Com o cigarro na boca, de cuecas, bunda abaixo de zero, ergo o isqueiro à frente do rosto.  The Cramberries pode tocar No Need To Argue agora.

Aí o isqueiro faz risk, risk  e não acende.

Estava molhado.

- O que trago nos ombros é meu e é só meu.

Que loucura.. respirei quase aliviada.

Agora estava tudo contra meu pedido de casamento. Não vou bancar a boazinha e dizer "que bom que tudo está bem, seremos felizes, posso esperar para uma realização pessoal..", na verdade, fiquei feliz por Sabrina sobreviver, bem mais por Lavinho estar bem. E só.
Agora tem Alice e Lacerda no meu caminho.. eu sei que esses dois atrapalhariam as coisas por aqui. Em uma semana nem sei mais onde eu moro, meu relacionamento com Sophia tem esfriado por conta de problemas alheios, preciso encontrar uma forma de ter a atenção dela de volta. Talvez se saíssemos um pouco, só nós duas.. não sei bem o que seria melhor.
Minhas férias estão sendo um porre. Não tenho descansado, bem menos executado todos meus planos de passeio, noites lindas de amor, jantarzinho romântico. Porra, todo mundo resolveu aparecer e causar justamente agora que tudo tinha chance de ir bem.

Precisava me afastar de todos e levar Sophia comigo, mas nem sabia se ela queria ir junto. Percebi uma certa "alegria" em ver o Pub cheio e a mãe por perto, talvez fosse bom pra ela, mesmo que isso me matasse aos poucos. Lutei tanto tempo pra ficar com ela e quando estou proxima as coisas escapam do meu controle. Talvez eu precisasse nesse momento de uma demonstração da parte dela, talvez eu precisasse deixá-la viver, talvez eu precisasse ir embora. Não sei.
Não estou disposta a viver numa mentira, não tenho estômago bom pra essas coisas, voltar a viver com todo mundo, perdoar, aceitar e bem menos, correr riscos.
O que é meu, quero pra mim. Tenho necessidade de saber onde piso e bem mais se ando acompanhada.
Quero saber se Sophia ainda me quer do mesmo jeito, se quer morar, casar, dar risada comigo. Preciso de uma resposta, urgente.. não dá para ficar desviando o foco toda vez que uma merda acontecer com alguém.
Preciso dessa mulher comigo, só minha, sem ter medo. Preciso cuidar da minha pequena.

Levantei do sofá, apaguei o cigarro e fui buscar Sophia.
No caminho liguei:
- Alô.. Sophia, tem um tempo pra mim?
- Oi meu amor, claro.. é, porque está perguntando isso? Sua voz está tensa.. o que aconteceu?
- Bom, precisamos conversar.. estou chegando já..
- Ai, pra você vir me buscar.. coisa boa não é! O que foi?
- Já conversamos, beijo... (tu..tu...tu..tu...)

Precisava dar um rumo à minha vida, não queria mais pedaços dela.
'Eu não sei e não quero dividir.


{Clarice}

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Olha quem está sangrando agora

Se eu nao tovesse me esquivado, a garrafa teria me acertado em cheio no rosto. Não. Cansei de levar garrafadas. Aliás, cansei de muita coisa. Inclusive de levar desaforo dos meus amigos. E Olavo nunca foi meu fã, mas daí a querer me matar é sacanagem demais. Não, Clarice e eu nunca fomos assim... amigos. Embra ela já tenha tentado me matar uma meia duzias de vezes. Por isso o espanto quando ele, Olavo, levantou-se com a garrafa de vodca pela metade e mirou minha testa. Sorte minha que não sou uma pessoa desatenta. Quero dizer, com meu estilo de vida, não posso ser. E estar aqui de novo, neste pub, sob o olhar massacrante e desconfiado de todos, não está sendo fácil. Mas nada poderia me preparar para isso. Nada.
E também não poderia reagir.
Ele gritava muito e tentava a todo custo espatifar aquilo na minha face. Não, Lavinho, não vai acontecer. Não hoje, sacou?
A garrafa explode na pia, sobrando o gargalo na mão dele e alguns cacos espalhados pelo piso. Pronto, em quinze minutos a Swat vai estar aqui. Pior que isso, em cinco segundos CLARICE vai estar aqui.
_Olavo, porra, cara! Eu não joguei a sua irmã lá de cima! Ela pulou! A doida pulou!
_Seu escroto imbecil, quem você pensa que é pra chamar minha irmã de doida!??
_Então tá: A pessoa perfeitamente normal que é sua irmã PULOU do prédio! Droga, cara! Eu SALVEI a vida dela!
_Não, Lacerda! Voce não salvou porra nenhuma. Tudo o que você fez desde que entrou nas nossas vidas foi FODER com a gente!
_Cara, isso tudo por causa de um vídeo?
_Não é a droga do vídeo, é a droga da sua VIDA! é a MINHA IRMÃ! O SEQUESTRO DE SOFIA!  MILHÕES DE REAIS! Tudo o que voce toca vira MERDA, Lacerda!
Segurei ele com toda a força que tenho. Sei que ele é forte, mas conhecendo-o bem, sei que não foi talhado para a luta. Não uma alma como a dele. Merda, sei que ele está certo em algumas coisas do que diz, mas vim aqui para dizer que agora todos nós podemos ...
Não vi a garrafa, eu juro. Ele foi rápido e instintivo, jogou-me um passo pra trás. Um maldito passo pra tras foi o suficiente pra metade daquela garrafa rasgar minha mão. Eu solto um grito de dor e caio no chão no momento exato em que a Swat entra na cozinha. Vermelho, tudo vermelho. Parece que entrei de repente num filme do Torantino. Ouços as vozes, os gritos, os passos. Não era a Swat.
Era bem pior que isso.
 Quando acordei, estava na minha antiga cama novamente, lá no Pub. Meu, não acredito que apaguei só por causa de um cortezinho na mão. Que frescura minha. O que pode estar errado comigo pra me fazer apagar desse jeito?
Ah, droga. É claro. A razão pela qual voltei. Pra avisar. Avisara eles que... Ah, não. Não não não não não não pode ser, burro, porque você tinha que derramar meu sangue, porque você tinha que...?
_Lacerda! - a voz de Clarice ecoa em minha cabeça. Minha mãe estava enorme, inchada, enfaixada, caída no canto da cama, latejando.
_Nessa casa nós vamos precisar de um ambulatório, meninos - dessa vez foi a voz de Sophie.
_Ele não vai precisar de um hospital, o corte não foi muito profundo - diz o sotaque carregado e "horrorroso" de Tina. Como é bom ouvir aquela Irlandesa novamente.
Mas a visão ainda estava turva. Só uma confusão de vozes ao meu redor. E eu me sentindo uma moça deitada na cama, desmaiada.
_Então porque ele não acorda? - a primeira vez que ouço Olavo. E pelo tom da voz dele, parece meio preocupado e meio feliz por ter me arrancado alguns gritos e sangue.
Tento balbuciar, mas nada vem. Deve estar soando engraçado, como um gago bêbado.
Apago novamente.
Quando abri os olhos, dou de cara com Olavo sentado ao lado da cama. E dessa vez, sem a  equipe da Swat:
_Então você ainda está vivo?
_Eu não diria isso com muita certeza - (que bom que é minha voz normal, sem uma bolha de sangue na garganta)
_Eu não quis matar você. Eu nunca mataria ninguém, eu acho.
_Esse é o tipo de coisa que a gente nunca sabe.
_Porque você fez isso tudo conosco? Não fomos bons amigos?
_Olavo... guarde bem essas palavras: Eu não vou mais pedir desculpas.
_Não quero desculpas. Suas palavras e seu... sarcasmo... sempre feriram a nós muito mais do que você pôde perceber.
_Eu sei. Mas eu parti justamente para resolver as questões factuais que nos envolveram nos ultimos meses. O roubo. O sequestro. Tudo está resolvido agora. Nem mesmo a polícia está atrás de mim. As pessoas que estavam atrás de mim por casua daquela grana estão todas mortas ou presas...
_Você...?
_Isso faz realmente alguma diferença?
_Droga, cara. Somos uma familia. E não gosto de você, assim como não gosto de parte da minha família. Mas o importante é podermos contar um com o outro, foda-se se morremos de amores.
_Eu concordo. Ai.
_Mas você nos meteu encrenca.
_Muitas.
_No entanto, você não nos deixou na mão. Nos ajudou a resolver, mesmo do seu jeito imbecil de resolver as coisas.
_Eu prefiro ser antipático que ser falso, Olavo.
_É, eu sei.
_E nem faço questão de uma legião de fãns.
_É, eu sei.
_Mas quando a coisa aperta, eu faço o que tenho que fazer.
_É, eu sei.
_E sinto muito pela sua irmã.
Olavo se cala e baixa a cabeça. Depois diz:
_Ela vai sobreviver.
_Sei que você não gosta nem um pouco de saber que ironicamente foi meu carro que salvou a vida dela. Que se eu não estivesse lá ouvindo Jhonny Cash, ela teria se esborracado no asfalto.
_Eu não vou agradecer você por isso.
_Nem deveria. Deve ser uma merda saber que o cara que você mais detesta e abomina é o responsável pela vida de sua irmã. MAs quer saber, cara?
_O que, Lacerda? Qual vai ser a ironia dessa vez?
_Talvez, apenas talvez, estacionar o carro embaixo daquele prédio tenha sido a melhr coisa que eu tenha feito em toda a minha vida. Porque graças a Deus, ela vai poder crescer e ter filhos, se casar... quem sabe até ser feliz.
_O que você está dizendo?
_Que no fundo de tudo, a gente se torna mesmo responsável por tudo aquilo que cativamos, como dizia a Raposa do Pequeno Príncipe.
_Você acha que vai me convencer com esse papinho new age, cara? Que vamos aceitar você numa boa, sem fazer perguntas?
_Eu não quero achar nada, nem pretendo ser aceito por ninguém. Só quero dizer que tudo está resolvido mesmo.
_E voltou aqui pra isso?
_Não, eu voltei pra quebrar o parabrisas do meu carro novo com uma suicida na puberdade.
_Estúpido.
_Bicha.
Nos encaramos por alguns segundos, sentindo o sangue ferver nos dois rostos. Tenebrosos momentos dentros dos olhos um do outro.

Depois simplesmente caímos na risada. Gargalhada. 
A Swat novamente entra esbaforida no quarto e nos flagra rindo... gargalhando juntos.

Não sei se foi falso ou verdadeiro. Mas confesso que foi o melhor nos últimos tempos.

Estilhaços

Caos. É essa a palavra que define a última semana de estranhos extremos: da fama pornô à experiência com uma “quase morte”. Se eu sobrevivi a isso tudo, sobrevivo a qualquer coisa. Aliás, sobrevivência é a palavra certa em dias em que uma garota se joga de um prédio e permanece viva.

* * *


Logo após a alta de Olavo e Sabrina, propomos que ela passasse algum tempo conosco, no Cafetina, convite este que foi aceito sem hesitação.”Será bom passar algum tempo com pessoas que se preocupam comigo. Ainda mais depois de tudo isso” respondeu ela com um brilho nos olhos. Na saída do hospital, estavam todos lá: Clarice, Sophia e Lacerda. Ah, Lacerda: eu não era capaz de perdoá-lo. Seja pelo vídeo, seja pelo o que aconteceu com Sabrina. Ok, talvez ele não fosse responsável pelo último fato, mas alguém sempre precisa levar a culpa. Não troquei uma palavra sequer com ele, durante todo o percurso. Passamos no apartamento de Sabrina, para pegar alguns poucos pertences.



Chegamos no café. Enquanto Sophia e Clarice levavam as malas de Sabrina para o quarto, Lacerda e Olavo estavam, apesar de meus protestos, conversando na cozinha, sabe-se lá o que. Estávamos eu e Sabrina, sentados no sofá da sala. Enquanto ela acariciava o cachorro sem nome, eu me sentia tentado a perguntar o porquê dessa tentativa de suicídio.

-Desculpe Sabrina, mas assim, por que você se jogou do prédio, fia?

- Delicadeza, quem precisa dela, não é mesmo, Bernardo? – riu – Bem, você pode achar ridículo, mas foi por amor. Ou pela falta dele. Enfim. Eu levei um pé na bunda e não sabia como lidar. Estava com a cabeça quente. Porra, você vai me perguntar isso justamente agora, que eu acabei de sair do hospital?

Caímos na risada, numa gostosa descontração em Cristo /cleycianne. Olhei de relance pra cozinha, pra ver como estava o clima e a coisa parecia tensa. Olavo e Lacerda estavam com uma expressão séria, gesticulando demais. Let it be.

- Bem, como você me fez uma pergunta indiscreta, agora é minha vez. E você e meu irmão, o que acontece entre vocês? – perguntou Sabrina, enquanto enrolava fios de cabelo nos dedos.

- Fora a nossa fama pornô? Eu não sei.

- Oras, mas vocês não tem um relacionamento então?

- Não. Pelo menos eu acho que não. Afinal de contas, a gente nunca conversou sobre isso. E fora o episódio com o chantilly, só rolou um beijo e nada mais.

- Mas você gosta dele?

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um estrondo e um grito foram ouvidos na cozinha. Clarice e Sophia desceram correndo, usando apenas roupas intimas.



Na cozinha, uma mesa virada, uma garrafa quebrada na mão de Olavo e Lacerda se contorcendo no chão, com a mão sangrando.



É. O caos.