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segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Presente de Bee ou Porque não cabe um cachorro aqui #Lacerdawins

Sei que você não se importaria se eu falar alguns palavrões, mas foi até engraçado o modo como me contive perto dela. Batendo lá na porta, aquele "sotaque horrorroso" da Irlanda tentando falar um precário português espanholado. Merda de imigração, estão deixando qualquer maluca entrar no país agora? Ela ficou batendo na porta do apê, dizendo algo como "Correspondênxia parra doutorrr Lacerrrrda". Tipo isso. Tina é uma velha irlandesa, garçonete das boas, como imagino que deva haver muitas por lá. Não, doutor, não foi um comentário racista nem discriminatório. Pode manter Freud fora dessa vez.
Desci as escadas correndo assim que li a carta, quase atropelei Clarisse que lia um livro nas escadas. Quando gritei um as desculpas já estava lá embaixo, mas ainda pude o ouvir o "vai se fuder" educado e cortês que a madame silício mandou no ar. Não, sei o que está pensando. Não estou sofrendo por causa dela ou por causa do que aconteceu. Acho que fica difícil sofrer com 2 milhões e meio no bolso. Mesmo que esse valor teha sido dividido entre meis dignatários sócios, ainda é muito pra mim. Não. Lanço me sorriso mais sacana que ela retribui com um outro, mais sacana ainda. Estamos bem, eu acho.
Mas então, vamos aos fatos?
Ele estava na porta, o fiédaputa. Abanando o rabinho. A merda de um cachorro. Um maldito filhote de dálmata. Daqueles que crescem e ficam enormes, manchados e ... já falei enormes? Não, não e não! Bernardo está abusando do Rivotrin se acha que vou admitir um cachorro aqui na noss... ELE PULOU ENCIMA DE MIM.
Me lambeu todo dos pés a cabeça. Não queira achar essa cena excitante porque não é. Um filhote, que me olhava desesperado e faminto, querendo leitinho, ração e aquelas coisas que filhotes comem. Não, não, não!
O cara do canil me olhava com indignação e impaciência. Segurava uma prancheta de papeis e anotações, uma lista de entregas. Era pra mim.
_O senhor é o senhor Lacerda?
_Sim.
_Então preciso que o senhor assine esse protocolo, por favor - a voz dele falando soava como um ganso na puberdade cantando Ave Maria em Ré menor.
_Eu vou matar o Bernardo. vou sim. Vou transformar as bolas dele em enfeites de Natal. Vou sim. Vou socar tanto ele que vão ter que reconhecê-lo pela aura. - repetia como um mantra minhas juras enquanto rubricava a lista.
O entregador sorri agradecido e satisfeito.
_Nem ouse me desejar um bom dia.
Ele fecha a cara dá a partida no carro.

E lá estava eu, patético, segurando um filhote de dálmata pela coleira na porta de um pub, ameaçando mentalmente explodir o cérebro daquele boneco de chantily chamado Bernardo. Eu odeio cachorros e crianças pela mesma razão: Ambos são barulhentos, chatos, fazem sujeira, fedem e não possuem o menor controle de suas necessidades fisiológicas.

Só então percebi que atrás de mim, uma voz familiar gargalhava incrivelmente satisfeita, rolando na escadinha de entrada de um lado para o outro, como num desenho animado.
_Você sabia disso, não é Clarisse?
Vinte minutos depois da minha pergunta ela finalmente conseguiu parar de rir e me respondeu, ainda vazando uns risinhos pelo buraco do piercing:
_Lembra que o Bee disse que precisava resolver algumas questões no trabalho antes de se mudar defnitivamente pra cá?
_Lembro.
_Pois é, ele ligou ontem pra avisar que vai se mudar mesmo, que mandou o patrão dele enfiar a empresa no entrada do reto, e disse que mandaria um amiguinho para integrar nossa grande familia feliz.
Olho perplexo para o cachorro na ponta da coleira. Será que se eu girar ele assim e assim, com força, e jogar pra cima assim, ele fica engarranchado no fio igual o gato da Dona Elza?
Como se lesse meus pensamentos, Clarisse se abaixa e braça o pequeno satã, como se ele fosse a coisa mais fofa que já caminhou sobre quatro patas e ficou esfregando duas orelhas fazendo aquela voz de mamãe coruja, tratando-o com todos os diminutivos possíveis. E eu nem sabia que tchuco-tchuco possuia um. Não vou descrever todos. Mas imagine um monte de onomatopéias aí.
_O que foi, Lacerda? ELe não é uma coisa mais gostosa?
_Não. É só um cachorro idiota.
_Ah, não seja tão ranzinza! Um filhote é uma ótima companhia!
_Num apartamento? Excelente idéia! Que tal a gente aproveitar a banheira do segundo piso e criar golfinhos também??
_Ah, não liga pra ele. Ele é um bobo.È sim ! - diz ela, um mulherão daquele, babando encima de uma bola satânica de pelo, levando-o pra dentro do Pub até o andar superior onde morávamos.

Enquanto eu fiquei sentado no meio fio, bufando, rezando para que Bernardo atenda o telefone. Não pode ficar pior, isso foi sacanagem, eu odeio cachorro e não pode ficar pior. Não pode ficar pi...
"O telefone que você discou está fora de área ou deslig..."
_Bernarrrrrrrddooooooooo!!!!!!! 




 

4 comentários:

  1. Alguém ai me diz cadê a Sophia? E a Clarice? Saudades das meninas e suas loucuras!

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  2. Só tem macho por aqui
    Clarice meu amor
    Volta Girls

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  3. Clarice sempre está presente, mas a autora de Sophia decidiu se esconder, vamos ver se ela dá as caras por aqui em breve.

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  4. Ai que legal essa trama de vocês.

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