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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Xadrez

Após a fatídica noite com gosto de chantilly e a saída de um Olavo muito constrangido, Bernardo resolveu que era hora de arrumar aquela desordem que deveria ser chamada de casa. Sentou-se no chão de seu quarto, enquanto revirava montes de roupas suja, procurando algo perdido nos bolsos. “Seria interessante achar uma nota azul em algum bolso” divagava, enquanto Mr. Brightside ecoava pelos cômodos, abafando o exótico som vindo do apartamento vizinho. Ao invés de algum dinheiro, tudo o que achou foi um bilhete em um casaco. Algo da época em que Bernardo tinha uma vida ainda mais dupla que sua atual jornada de dois empregos. Era uma lembrança do tempo em que passava horas a fio em sites de relacionamentos, valendo-se da piegas alcunha de Louis.


-Mas que porra é essa? Achar isso agora? Mas que merda. – disse para o vazio, enquanto desdobrava o papel. Nele, aquela caligrafia rabiscada já conhecida: “I put a spell on you and now you´ll be mine”. Era a letra de Caio, um caso mal resolvido que começou na internet.

Levantou-se, colocou as roupas em um cesto e foi até a lavanderia. Separou ritualisticamente as brancas das coloridas, ligou a lavadora e foi jogando peça por peça, enquanto sua mente viajava em lembranças ligadas aquele bilhete. Caio, era um estudante de medicina de uma família de classe média. Tinha uma namorada, mas de vez em quando gostava de experimentar outros rapazes. E nessas experimentações, Bernardo apareceu. Tiveram mais do que uma rápida e simples degustação íntima: foram três meses de idas e vindas, até que Caio decidiu-se por um noivado de fachada com sua namorada. “Por que pensar nele agora? Ele não foi capaz de me escolher. Justo eu, que o amo tanto. E sei que ele me amava também. Só que amor não é suficiente. Pelo menos, aparentemente... Mas o que isso importa agora? Há roupa há ser lavada aqui e ele deve estar fodendo com sua namorada perfeita”.

Enquanto as roupas giravam dentro da máquina, Bernardo lançava um olhar para a rua, apoiando-se no pequeno muro da lavanderia. O sol das 11 da manhã fazia seu cabelo castanho claro brilhar. O olhar estava perdido, totalmente clichê, quando o interfone tocou. A voz abafada do porteiro perguntava se podia deixar um tal de Caio subir. Bernardo ficou mudo por instantes, sem saber o que fazer. A bagunça de seu apartamento, as roupas girando na máquina, o bilhete e os três meses: tudo isso veio à sua cabeça, enquanto um fio de voz autorizava a entrada de Caio.

Em três minutos, Bernardo saiu correndo pelo apartamento, tentando guardar tudo o que via pela frente. “Por que estou fazendo isso, porra? Eu não deveria me importar!”. Som de batidas na porta, maçaneta girando e um rangido. De um lado, um ofegante Bernardo, com uma calça xadrez, camisa desabotoada e o braço tatuado sujo com chantilly. Do outro, um rapaz alto, moreno, com sua impecável roupa branca. Com um sorriso meio sem graça disse no tom mais adorável do mundo.

- Você tem um tempo pra mim?

2 comentários:

  1. Cadê a Clarice??? Não acredito que ela não pegou a Sophia! Ta ficando mole hein minha filha... Posso ir no seu lugar?

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  2. Hehe, orra Clarice! Mole? Apesar que assim, kd a continuidade do post? Clarice deixou Sophia no vácuo mesmo? rsrsr...

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