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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Fantasmas que me sopram aos ouvidos...


Ninguém entendeu nada, e confesso que o receio de aquele not ser uma bomba programada para se auto detonar em 15 segundos depois de ligado, tomou conta da lavanderia. Olhamos uns para os outros e não rolou nem mesmo um momento de coragem individual ou coletiva para dar o passo seguinte.
 
Entreguei o o not para Bee...

_ Lindo, talvez seja melhor você abrir isso. Afinal, o Lacerda ligou e deixou esse pacote para você, né?! Sei la, pode ser pessoal o conteúdo...
 
_ Como assim pessoal Sophia? Perguntou Olavo, e posso até mesmo jurar que ele estava todo enciumado... Batendo o pézinho e tudo...

_ Não sei Lavinho. Só foi uma hipótese...
 
Entreguei o not nas mãos de Bee que ainda estava sentado no chão da lavanderia, e ao contrário dos outros, sem a mínima curiosidade e em completo silêncio sai em direção ao meu quarto.
 
Nem mesmo havia sentado na cama quando Clarice bateu na porta...

_ Amor, posso entrar?
 
_ Oi pequena, claro que pode!
 
_ Amor, ta tudo bem?
 
Silêncio...

_ Percebi que desde que nós chegamos em casa você anda super caladinha, com um olhar meio distante, tristinha...
 
Silêncio...

_ Quer conversar sobre o que aconteceu quando você estava lá... Em... Em... Em cativeiro...?
 
_ Han... Só se você me der um abraço primeiro... - algumas das malditas lágrimas com as quais eu vinha medindo forças até então, resolveram me vencer e começaram a cair...
 
Jam abriu um sorriso que transparecia um coração apertadinho no peito... E atendendo a meu pedido me abraçou forte, bem forte, e não disse nada. Ficamos assim por alguns minutos... Respirei fundo:
 
_ Bom... O que você quer saber amor?
 
_ Tudo que você quiser me contar baby...
 
_ Então vamos lá... Acho que nem preciso dizer que foi uma experiência péssima, né?! Nunca fiquei com tanto medo de morrer. Quando ele ligou para o Lacerda, e ele e Lavinho "negociaram", podia sentir o seu desespero do outro lado da linha, e juro para você amor, mesmo com todo o medo e angústia que eu estava sentindo ali, tanto pelo receio de morrer ou acontecer alguma coisa mais grave, quanto pela minha integridade física, eu não conseguia não pensar no que você estaria planejando fazer, e não conseguia me auto convencer de que você me ouviria e não faria, de fato, nenhuma besteira ou loucura para tentar me achar. Até por que, se fosse ao contrário, eu com certeza não te escutaria e faria muitas, muitas e muitas maluquices até conseguir te achar!
 
A experiência foi toda horrível, mas passei por alguns momentos piores ainda... Os segundos pareciam se arrastar por lá e por várias vezes eles ficavam com o revólver apontado para minha cabeça, dizendo que se vocês tentassem alguma gracinha, poderiam dar adeus para Sophia, que conheciam e etc... Enfim, não tenho nem como descrever o que foram essas doze horas que passei lá amor, só sei que foi péssimo. Quando fomos lá para aquele galpão onde você e Lavinho nos acharam, eles ficaram planejando várias defesas para caso você ou algum de vocês inventasse de tentar bancar o herói e me salvar. Na hora que o Olavo entrou daquele jeito no galpão, eu tinha certeza que você estava tramando alguma coisa em parceria com ele - um gélido arrepio que parecia passar por todo o meu corpo, me devolve a sensação do momento -  entrei em pânico ali, total e completo desespero, porque sabia que eles estavam vigiando todos os lugares ali em volta, justamente para caso um de vocês tentasse fazer justamente o que fizeram...

Se eu já estava desesperada sem “nada” ter acontecido, imagina só como que meu coração ficou quando te vi ali, com a perna toda cheia de sangue, do meu lado, por minha culpa... Nossa amor, eu... Eu, realmente não sei dizer o que senti naquele momento. Pensei de verdade que todos nós fossemos morrer ali, todos, e por minha causa ainda por cima. Eu já não tinha mais como elevar o meu grau de pânico, terror ou desespero nesse momento, por isso fiquei apenas parada, olhando para você, senti de verdade que aquela seria a última vez que eu te veria, naquele momento as lágrimas eram pura conseqüência da imensa dor que sentia...

Juro que eu nem bem ouvi os disparos, e menos ainda vi o que aconteceu bem ali na minha frente, apenas senti as sua mãos me desamarrando, e seus braços me envolvendo em um abraço apertadíssimo... Eu estava no mais completo torpor naquele momento, não conseguia nem ao menos sentir o calor do seu corpo me abraçando, era como se não fosse real... Apenas uma cena passando na minha frente... Você continuou ali, e quando vi Lacerda e Bernardo me dei conta de que aquilo tudo era de fato, real. Você disse que me amava, e quase que retomando minha consciência te abracei como nunca fiz em toda minha vida, como se quisesse te manter ali comigo, pra sempre. Mas, ao mesmo tempo em que foi maravilhoso ter você ali, te abraçar, te beijar, sentir seu cheiro, ouvir que me ama, em meio a todo aquele caos, foi também muito péssimo saber que você tinha se colocado em perigo por minha culpa. Amor, eu... Eu... Eu não me perdoaria jamais se alguma coisa tivesse acontecido com você... Jamais... Eu, eu... Eu... – recomecei a chorar, dessa vez muito mais do que antes.

Jam me abraçou: ­_ Calma amor, não precisa contar mais nada. Agora já esta tudo bem. Eu estou aqui, e não vou a lugar algum sem você mais...

Em meio a soluços... e basicamente um banho de lágrimas, disse:

_ Clarice, eu de verdade, não sei viver sem você. Eu te amo como nunca pensei que amaria...

Clarice me abraça ainda mais forte... Tira uma pequena caixinha do bolso e se ajoelha ao pé da cama...


_ Você não precisa viver sem mim mais...

Abrindo a caixinha, ela pergunta: _ L’amour, casa comigo?

O grito de Olavo e Bee vindo da lavanderia rouba toda a situação climática ali no quarto. Saímos correndo para a lavanderia, quando chegamos lá.............. 

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