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terça-feira, 20 de abril de 2010

A ponte na rodovia #Lacerda

Eu sabia que isso ia acontecer. Estava implícito no desenrolar da última conversa. Nada poderia ser pior que isso, creio eu. Atravessei o saguão aproveitando a portaria aberta, ignorei o porteiro. Ele vai me seguir assim que notar o estrago que fiz na vidraça com a sola desse cuturno. Caralho, deus sabe o quanto eu tô puto. Tô puto mesmo. Ela mora aqui, eu sei que mora. Ela balbuciou o endereço algumas vezes. É aqui. Quem mais a não ser ela moraria num prédio tão enojantemente perfeito, com porteiro 24 horas uniformizado com esse chapeuzinho de hotelaria?
Só pode ser aqui. O elevador está no último andar e eu não estou a fim de esperar. Não mesmo. Então subo pelas escadas, galgando cada degrau sentindo o sangue na garganta, o coração descompassado de raiva. Raiva, porra! Que vaca!
A porta dela só pode ser essa com um tapete de boas vindas felpudo. Só pode ser. Antes da ponta de meus dedos tocarem a campainha, ela abre a porta.
Estava linda.
Uma bela camisola transparente. Os olhos lacrimejados, o cigarro delicado entre os dedos. A fumaça subindo de levindo, como se não quisesse deixar aquela cena.
_Boa noite, Lacerda - sorriu Sophia, com mais vergonha que sensualidade naqueles lábios rosados _Imaginei que você viria.
_Como soube que era eu?
_Pelo passo raivoso, o ranger dos dentes, o telefonema do porteiro e esse perfume madeirado que usa.
Engulo seco. Algo em mim pulsa no pescoço. Não é apenas ódio, traição. Não. Ou será que...?
_Porra, Sophie! Eu GOSTO DELA!
_Aí é que está a questão, meu caro Lacerda... - diz Sophie, voltando-se para o interior do apartamento, num convite para adentrar _...porque eu também.
_Eu... eu... - Fico sem palavras. Eu não sei o que dizer. É isso, cara, você não sabe o que dizer. Nunca soube na verdade. Ela está aqui, a mulher que você transou, e a mulher que você transou acaba de transar com a mulher que você não tansou ainda, mas está completamente apaixonado.
_Aí é que está a questão, Lacerda - diz ela me convidando a entrar. Sentou-se num belo sofá de couro. Estranho é que este sofá não parece ser uma escolha que Sophie faria. Não, cheirava mais ao gosto de Clarisse. _Eu também gosto dela.
_E ela gosta de você - eu digo, colocando a cabeça entre as mãos espalmadas.
_Mas gosta de você tambem, meu querido - aquela estranha calma fez meu sangue galar. Era como se por detrás daquela beleza esculpida existisse uma máquina trabalhando, uma máquina fria e eficaz.
_Eu não sei o que dizer.
_Não diga. ela já fez uma escolha essa noite, baby. -  Sophie sorri. Não o sorriso cínico de vilã de novela. nem o sorriso vitorioso e maquiavélico das pessoas de coração leviano. Era só um sorriso. Um sorriso doce e gentil, quase generoso. Como se ela estivesse com pena de mim.
_Errado, Sophie  a voz tingiu a sala de vermeho, entrando pelos meus ouvidos aos sacolejos. Ergui a cabeça imediatamente.
Ela veio caminhando firme até nós. Ela, a muralha de força que chamos por...
_Clarisse, desculpe, minha querida. Não queria acordar você - diz Sophie levantando-se para beijá-la. Só agora prcebi que estava de pé também.
Clarisse vira o rosto. Mas não de forma rude. Não era esse o esse o estilo dela.
Sophie recua um passo, se alianhando a mim bem frente a ela. Meu coração é uma zabumba agora. Meu coração está saltando. Meu coração está...
_Quero que os dois escutem e prestem bastante atenção... - inicia Clarisse com um olhar tão fixo que me fez gelar _... porque meu coração não vai permitir repetir isso.
Sophie não me olha. Olhava fixamente o olhar de Clarisse. Ela está com medo, tanto medo quanto eu.
_Você, Lacerda, é tudo o que Sophie jamais conseguirá pensar... e você, Sophie, é tudo o que Lacerda jamais sentirá sentir. E não por mais que minha cabeça mande, meu peito não permite escolher. Não vou, não importa o quanto dure minha voz. Nem agora nem nas eras que virão, nada jamais me fará optar entre um de vocês. Por isso, e só por isso, não posso tormar essa decisão. Porque não posso. Porque não posso fazê-la sofrer, Sophie. Nem fazê-lo sofrer, Lacerda. Se é assim que tem que ser, eu mesma vou embora - e volta para o quarto, deixando as palavras ecoarem no silêncio entre Sophie e eu. Ficamos inertes, incapazes de sorrir ou de chorar, incapazes de encarar um ao outro. encapazes de nos mover para onde quer que fosse.
Um... dois... três minutos depois, Clarisse sai do quarto carregando uma mochila velha jeans, uma jaqueta marrom e o olhar colado no piso. Passou pelas duas estátuas como um raio, mas antes que alcansasse a porta, me livro daquele transe e a seguro pelo braço.
_Espere, você não pode ir.
_Eu posso o que eu quiser, Lacerda. Você me ensinou isso.
_Mas eu não posso permitir. Ficar sozinha vai lhe trazer dor e sofrimento, e não posso ver a mulher que eu... a mulher que... não posso vê-la sofrer mais por minha causa, ou por decorrencia de meus atos. Foi um erro vir até aqui porque você ama Sophie. E Sophie ama você, por mais que eu me recuse a acreditar nisso.
Ela não me olha os olhos. Nunca quis que  visse chorar. Atrás de mim, sinto no rosto de Sophie escorrer a mesma lágrima invisível. Parada na porta, a voz de Clarisse sai engasgada:
_E porque eu não posso ir?
_Porque sou eu quem deve cair fora. Porqe você não pode escolher, mas eu posso. Fique. Por favor. Ela pode não ser a pessoa que eu queria na sua cama, mas sei que ela não vai lhe deixar sofrer.
Então Clarisse encontra meus olhos lacrimejando. Eu que jurei pra mim que não deixaria isso acontecer. Ela engole a dor:
_Você vai simplesmente desisitir de tudo só para não me ver chorar? Porque???
Eu a puxo pelo braço e seguro sua nuca com firmeza, mas com mais ternura que qualquer outro gesto que já tenha feito. Colo os lábios rentes a orelha dela, sentindo-a vibrar ao som de cada palavra, ao ímpeto de cada sílaba, ao tesão de cada letra:
_Porque eu amo cada pedacinho seu, sua vaca estúpida.

O tapa rasga o ar feito lâmina, explodindo em cacos pela minha cara. O estalo ficou zunindo em meus tímpanos por alguns segundos. Estranho é que já não sentia mais a presença de Sophie atrás de mim. O que não importa agora. Eu não me movo. As bochechas ardendo, provavelmente vermelhas. Eu me sinto, nese momento, o homem mais imbecil do mundo, o mais idiota, o mais...
Ela pula em meu pescoço e me beija. Me beija com tanto tesão que a bochecha pára imediatamente de queimar.Me beija como se unca houvesse me beijado antes. Me beija como se quisesse me colocar pra dentro de si.
E porque raios, naquele beijo avassalador, a única coisa que penso freneticamente é onde esta Sophie?

Foi quando os lábios dela tocaram meu pescoço. Os lábios rosados de Sophia.
Me virei.
Nos viramos.
Sophia recua alguns passos até o sofá preto de couro. Tenho quase certeza que foi Clarisse que escolheu a merda desse sofá. A anfitreã trazia no corpo bem menos roupa do que havia antes. Bem menos. Uma garrafa pela metade de vinho tinto.  
Na outra mão, dessa vez Sophie trouxe três taças.

* * *

_Então peraí.... você dormiu com as duas?? - Me pergunta Bernardo, espantado.
_É, acho que foi isso. E pra falar a verdade, não anotei a placa do que me atropelou, meu amigo.
_Uau! Clarissa se dando bem!
_Ainda não sei o fabuloso destino de Clarisse Polain, Bee.
_E se conheço bem a garota, nem ela! Mas pense pelo lado positivo: Pelo menos você não acordou cheio de Chantily!
_Chantily? Do que você está falando?
Bernardo exibe um sorriso maroto, balançando as pernas no alto da ponte, onde tomávamos umas latinhas de cerveja.
_Esquece, Lacerda. É uma looooonga história.

E lá de baixo, na rodovia, os carros passavam rápido naquela boa e velha paulicéia desvairada. E eu me pergunto o que pensam os que dirigem rápido demais. Mas balançando os pés no vento, o infinito à frente dos olhos, confesso que fica difícil pensar.





4 comentários:

  1. Cada dia mais sua fã! Além de fã no paranóia, agora sou mega master fã, louca, apaixonada pela Sophia...

    Beijos, Paulinha...

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  2. Clarice, decide ai meu amor......... larga os dois que em Guará tem gente que te quer e nunca vai te chamar de vaca estupida!! Voce saberá quem é em breve!! Sua foto é linda, vi no fotolog hoje, está na carteira

    Uma menina que saber o que quer.

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  3. =O ... CHOQUEI!!! Rs, como assim a Clarice dividiu MESMO a Sophia com o Lacerda? =O²

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