... Longa, longa, longa Noite ...

Caos! Essa era sem dúvida a definição mais apropriada para o que estava acontecendo exatamente na minha frente naquele momento. Mamãe e Clarice discutiam já fazia basicamente 15 minutos, e confesso que apesar de não estar agüentando mais essa situação, nunca vi duas mulheres discutindo com tanta classe... Ofensas subliminares e meias palavras eram a música da noite, até que para minha profunda alegria, a campainha tocou, alterando um pouco a trilha sonora da sala. Já eram aproximadamente 20h, e ninguém sabia que eu estava de volta ao apê a não ser Olavo e Bee. Fato esse, que confesso ter me preocupado um pouco... Afinal, pensar que o vídeo pudesse ter de fato, se transformado na tão temida bomba relógio, não era uma possibilidade tão nula assim para mim, logo me apressei para ir atender a porta.

 
Para a minha não surpresa, Clarice e Mamãe nem mesmo notaram que sai do recinto; é, realmente, haviam se esquecido da minha presença por ali há no mínimo uns consideráveis 20 minutos... Corri para a porta, e ao abri-la admito que não sei o que mais me chocou... Se foi ver Lacerda inexplicavelmente parado na minha porta, ou se foi ver Lacerda inexplicavelmente parado na minha porta com uma expressão tão agoniada e tão pálido que parecia mais um fantasma do que qualquer outra coisa. Tendo a suspeitar que seja essa segunda opção a mais condizente com a realidade do meu espanto... Olhei para ele, e quase sussurrando para que nenhuma das briguentas lá dentro escutasse...
 
_ Lacerda... Uau... Como sabia que eu estava aqui? Passou no PUB?

_ Oi Sophie... Não... Na verdade eu não sabia. Apenas... Sei lá... Intui que estaria...

_ Huuummm... Entendi... Olha, juro que não é nada pessoal, e que meu pequeno seqüestro não tem nada de influenciador nisso, mas, não é uma boa hora... Não é mesmo!

 
Os olhos dele emanavam o desespero em que se encontrava ali, e como se fosse um foguete disparou o que tinha a me dizer na maior velocidade que pode...

 
_ Sophie... Tem um semi cadáver no banco do passageiro do meu carro que esta estacionado na rua de trás do seu condomínio!

 
Silêncio...
 
_ Sabia que cheirava a confusão a sua intuição... Como assim? O que aconteceu?

_ Eu juro Sophie, juro, juro e juro que dessa vez eu não tive culpa de nada, apenas má sorte. Estava com meu carro estacionado no lugar errado, na hora errada e na mira da suicida errada!

_ OK. Acredito em você... Agora, como assim suicida, carro, hora errada e lugar errado?

_ Vamos até o carro, por favor... Eu sei que você sabe prestar os primeiros socorros...

_ Eu não posso tocar nem agir de qualquer forma com uma suicida Lacerda! Ainda mais em uma situação assim... Isso é muito sério!

 
Falei mais alto do que eu gostaria e até mesmo do que eu podia, e ouvi a voz de Clarice atrás de mim...

 
_ Amor, quem ta aí na porta hein?!

_ É o síndico amor... Vou ter que ir até a administração para resolver um problema de condomínio, promete que você e dona Alice Fernandes não vão se matar?

_ OK. Não demora, se não, eu não posso garatir nada!!!

_ Já volto...

 
Fechei a porta atrás de mim, olhei para Lacerda...

 
_ Acho bom isso não ser piada. Acabei de mentir para minha noiva! - confesso que o “noiva” saiu com uma entonação um tanto quanto esnobe, mas, não foi uma intenção consciente, juro!

 
_ Quem é Alice Fernandes?

_ Minha mãe...

_ Sua mãe veio de Paris?

_ Sim, por isso estou aqui no meu apê. Ela chegou hoje mais cedo, vai passar um tempo aqui comigo...

_ Huuuuummm... Com todo respeito, a sua mãe é uma gata!

_ Lacerda... Calaboca!!! - O canalha ainda teve a coragem de rir de canto e dar uma leve e marota piscadela...

 
Caminhamos rapidamente até o carro, e enquanto isso Lacerda foi me contando a história que envolvia o semi cadáver que eu estava indo verificar... Quando chegamos, Lacerda me pediu para ficar calma, e juro que só entendi de fato seu pedido, quando meus olhos encontraram a pobre garota no banco do passageiro do carro dele...

 
_ Lacerda, pelo amor de Deus, temos que levá-la ao hospital. Agora!

_ Sophie, eu não posso! Eu seria preso... Não poderia explicar e nem fazer nada do que voltei aqui para fazer...

_ Lacerda!!!!! Essa garota esta a minutos da morte... - foi nesse momento, quando me coloquei de frente ao corpo que consegui identifica- la... Minha expressão tornou-se apenas um assombro, o chão de repente ficou vacilante aos meus pés, e senti um arrepio medonho percorrer toda a extensão do meu corpo...

_ Sophie.... Sophie.... Você esta bem? - disse Lacerda me segurando por um momento...

_ Sa... Sabri... É a.... Sabrina!

_ Sabrina? Você a conhece Sophie?

_ Lacerda, me dê seu celular, deixei o meu lá em cima... Agora!!!

 
Ele me passou o celular ainda sem conseguir entender muita coisa...

 
_ Sophie, você a conhece? São amigas?

 
Enquanto ele me perguntava coisas que eu nem ao menos escutava, fiz um telefonema para um cirurgião amigo meu, pedi sua ajuda em caráter único, e não apenas excepcional... Ele nem ao menos hesitou e me prometeu chegar em 15min a minha casa e disponibilizar sua clinica e todo o seu pessoal para o que eu precisasse...

 
A segunda ligação foi para Clarice...

 
_ Amor. Menti para você. Me perdoe... Lacerda esta aqui. Preciso que você não alarme minha mãe e desça aqui. Estamos na rua de trás. Quando chegar vai entender porque não contei a verdade...

_ Lacerda? Estou descendo amor... Sua mãe foi dormir! Sua voz esta aterrorizada!

_ É, acho que exprime bem o momento! Vem rápido amor...

 
Desliguei e olhei nos olhos de Lacerda esperando que ele apenas entendesse a informação, me poupando de ter que transmiti-la de fato...

 
_ Olavo? Sim, sou eu, Sophia! Lindo, preciso que você e Bernardo estejam aqui em casa em no máximo 15 min.

_ Como assim?

_ É sobre Sabrina... Vida ou morte...

 
Tu... Tu... Tu... Tu...