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sábado, 22 de maio de 2010

O Vôo da Serpente #Lacerda Wins

Bernardo vai me matar quando souber do vídeo. Sei que vai. Mas putz, que graça tem viver se não for pra ficar vermelho de vez em quando?
Saudade deles. Faz uma semana que estou acelerando de volta pra São Paulo. O que tinha de fazer em BH já está feito. E no futuro bem próximo, vai começar a feder. Por isso não posso voltar ao Cafetina's ainda. Bom, isso não quer dizer que eu não possa comprar um presente e deixar por lá, uma garrafa de jack daniels, é isso.. Mas depois penso nisso. Primeiro preciso acender um cigarro. Estaciono o carro próximo do meio fio, à frente de um enorme prédio. É bom estar devolta à São Paulo, mas esse trânsito funciona melhor para motos. Pena que tive que vender a minha para pagar aquela dívida. Pelo menos, no fim das contas, ainda pude comprar novamente um carro. Um lindo carro Sedan preto. Desligo o motor e acendo um cigarro. Fecho os olhos e deixo fecho os vidros. Nada de caos por hoje, eu espero. Apertando o play, deixo Jhonny Cash tocar.


INTERLUDIO:


Ela quis ser o superman. Queria ser uma superpessoa, como seu irmão Olavo. Olavo era o máximo. Queria voar e saltou do prédio mais alto que encontrou. Pensou consigo que as pessoas lá embaixo se perguntariam o que seria aquele objeto cruzando o espaço acima de suas cabeças. Um pássaro? Não, um avião? Seria ela. Sabrina voando.  irmã do Olavo, a poderosa irmã do Olavo.
Então tratou logo de entrar no elevador antes que a coragem tratasse de ir emboora. Esses arroubos de iniciativa são voláteis, ela sabe disso. Daniel não quer mais nada com ela. E porque iria querer, se a outra é bem melhor, mais gostosa, mais bonita, mais sociável, veste-se melhor e não costuma assistir o canal de vendas de madrugada, fantasiando comprar tudo o que não precisa, para sentir-se quem sabe mais fútil e um cadinho só mais feliz?
No elevador não havia ninguém, só a ascensorista. Ascensorista não é gente, é um robô que aperta botões e lê revistas de fofoca. Algo sobre a Juliana Paes, um novo batom vermelho puta, um creme para a pele que retira magicamente as rugas e uma dieta para perder 20 quilos. Talvez se perdesse vinte quilos Sabrina voaria com mais facilidade. Mas um boeing 747 possui 38 toneladas vazio e mesmo assim voa. O segredo está na aerodinâmica, propulsão e algo sobre adestrar o vento. Isso não importa agora. Se preparou para este evento como quem se prepara para algo muito importante, vestiu seu melhor vestido de festa que nunca usou e esperou que a coragem viesse lhe dar o sinal verde. Qual foi a grande surpresa hoje de manhã? "Vai, Sabrina, hoje é seu dia. Voe!"
Ela não sabe o que mais está escrito naquela revista, mas provavelmente o que ela sabe não está escrito lá.  Por exemplo, que o diâmetro da Terra é de 39.830 quilômetros e que esse cálculo foi possível graças às primeiras observações de Eratóstenes, entre 276 e 196 a.C.
A ascensorista estoura uma bola de chiclete esbranquiçada, dessas que se masca demais e perde a elasticidade, vira uma borracha gosmenta na boca.  A porta se abre. Último andar. Sorri e diz obrigado. A ascensorista apenas fecha a porta, como se devolver o sorriso fosse como pagar o aluguel de uma amizade. 
O piso estava vazio, só uma faxineira que também não era gente, era faxineira. Pelo menos é o que diz no crachá dela: "LIMPEZA". Ainda em 1966, Joseph Weizenbaum criou um software que simulava uma psicóloga e essa "analista virtual" foi amplamente utilizada no que hoje chamamos de Teste de Turing. O nome da "psicóloga" era ELIZA. Um dos robôs que esploram Marte chama-se SPIRIT.
A moça que esfrega o chão amargando o ângulo da coluna não é gente, é faxineira.
Sabrina sobe ó último lance de escadas até o térreo do prédio. Vento, muito vento. Um helicóptero se faz ouvir nas nuvens em algum lugar, mas não conseguiu encontrá-lo com o caçar dos olhos. Também não importa. O nome dela é Sabrina e Sabrina sabe voar. Só isso que importa.
Chegou na beirada. Um parapeito de 50 centímetros, o suficiente para impedir que uma criança levada caia lá embaixo, atrapalhando o comércio local ou o trânsito que não pode parar por nada neste mundo. Buzinas, carros às torrentes e gente formigando por todos os lados, entrando e saindo de lugares, conversando ou caladas, mas sempre andando, como abelhas operárias, mas sem nenhum néctar para carregar.
Havia duas árvores ladeando a porta de um boteco. Velhas, tortas e cinzas. É como o pulmão de um fumante, ela pensa.
O que aquelas pessoas lá embaixo iriam pensar? - recobra a questão. Que algo seria aquele cruzando o céu sem fazer o barulho de um motor? _Uma moça, vinte e poucos anos - diria alguém que pudesse enxergar. Os mais velhos ajeitariam os óculos no nariz. Pessoas tapariam a testa para tentar evitar o sol. Todas as cabeças se voltariam para cima. E lá encima estaria ela, voando. Sairia nos jornais da manhã seguinte ou no noticiário dessa noite? Allguém conseguiria filmar com a câmmera de um celular, iria parar na internet, acessos do mundo todo. Todos veriam o fenômeno que era uma garota de vinte e poucos anos que sabia voar feito um colibri.
Equilibrou-se no parapeito e abraçou o vento. É preciso uma comunhão, ela sabe. Uma entrega total. É apenas ela e o vento agora, entre os cabelos, as pernas e os braços. Uma comunhão. Um vôo rasante sem o ronco de um motor, sem Co².
Talvez, vendo ela voar sem asas, as pessoas lá embaixo vão se lembrar de coisas fantásticas que já quiseram fazer e não fizeram só porque um dia olharam no espelho e perceberam que não tinham asas pra voar.
Pensando nisso, beijou o vento e abriu um largo sorriso. Estendeu os braços e decolou.


LACERDA

A guria despenca como um tijolo. O barulho foi como se um avião estivesse se chocando com meu carro.
Em menos de 5 segundos havia tanta gente ao redor do meu carro que eu logo logo sertia notícia nos jornias. O que diga-se de passagem,. é uma péssima ideia. O pára-brisas se estilhaça em alguns milhõies de pedaços. Uma garota, um vetsido, muito muito muito sangue. Nenhuma novidade na minha vida atual. Parece que a matéria vermelha anda me perseguindo. As pessoas foram se avolumando mais e mais. Preciso pensar rápido. Estou atordoado, apavorado e tem metade de uma guria tgravessada pra dentro do meu carro. Mortinha da silva. Sangue pingando no painel e no carpete, no estofado, no câmbio, no volante, na... 
Ela está respirando.
Puta merda, ela está respirando... como ela está respirando depois de atravessar a cabeça no meu para-brisas? COMO???
Ouço sirenes ao longe. Ligo o motor do carro. Droga, droga, o que eu faço, o que eu faço?
Merda. Merda mesmo. Acho que lguém vai ficar muito puta essa noite.Ma\s não tenho outra escolha me não posso ir pro Pub.
Foi impressão minha. É claro que ela não está respirando depois de despencar do alto do prédio. Oh, maldito DEUS! Milhares de pessoas em Sampa, milhares de carros, e a suicida resolve cair logo encima do MEU!!!!!
Piso fundo no acelerador, cantando os pneus traseiros. A m,ultidão abre uma passagem no susto. A idéia era fazer o corpo rolar para o lado e cair no chão, mas algo saiu errado e o corpo caiu pra dentro do parabrisas. Bem no meu colo, no banco de passageiros. Droga-DROGA! Parece que estou num episódio de TWINLIGH ZONE! Porra! Se a polícia me encontrar aqui eu to n MERDA e não vou poder explicar a historia que vim aqui esclarecer!
Saco, eu deixo ela em algum lugar, é isso! Solto a embreagem e opuço os protestos da multidão quando o carro arranca pela avenida.
Só pode ser piada. Sério, não pode estar acontecendo comigo. Não posso chegar no Pub com um cadáver no banco do passageiro dizendo "oi, voltei, essa aqui é a fulana, ela se matou hoje à tarde encima do meu carro, uma longa historia. Tem café?". Não, não...
melhor desovar esse corpo em alguma favela e seguir direto pra casa d única pessoa que vai pelo menos tentar ser sensata e me ouvir antes de quebrar uma garrafa na minha cabeça. Vou direto pra casa d...
Ela respirou de novo. Oh meu deusmeudeusmeudeus....
Ela tosse uma gosma vermelha no estofado.
Como assim, nãonãonão, ela não está viva, não pode estar viva, ela não pode estar viva!
A garota abre os olhos. está mal. Parece estar quebrada. Toda quebrada. De alguma forma ABSURDA ela sobreviveu à queda.
Era só o que me faltava. Era SÓ Isso o que me faltava!
Estaciono o carro na porta do prédio. Desculpe por isso, desculpe mesmo, mas não sei a quem recorrer. Tô fudido, e to fudido em dobro agora! Só vc pode me ajudar a explicar tudo! Por favor, por favor, esteja em casa!
Aperto o interfone do apartamento de Sophie.

Um comentário:

  1. Deus do céu...
    Olavo tem uma irmã agora, ti po ìcaro!
    E se joga e não morre!
    To confuso!

    Dan

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