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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Olha quem está sangrando agora

Se eu nao tovesse me esquivado, a garrafa teria me acertado em cheio no rosto. Não. Cansei de levar garrafadas. Aliás, cansei de muita coisa. Inclusive de levar desaforo dos meus amigos. E Olavo nunca foi meu fã, mas daí a querer me matar é sacanagem demais. Não, Clarice e eu nunca fomos assim... amigos. Embra ela já tenha tentado me matar uma meia duzias de vezes. Por isso o espanto quando ele, Olavo, levantou-se com a garrafa de vodca pela metade e mirou minha testa. Sorte minha que não sou uma pessoa desatenta. Quero dizer, com meu estilo de vida, não posso ser. E estar aqui de novo, neste pub, sob o olhar massacrante e desconfiado de todos, não está sendo fácil. Mas nada poderia me preparar para isso. Nada.
E também não poderia reagir.
Ele gritava muito e tentava a todo custo espatifar aquilo na minha face. Não, Lavinho, não vai acontecer. Não hoje, sacou?
A garrafa explode na pia, sobrando o gargalo na mão dele e alguns cacos espalhados pelo piso. Pronto, em quinze minutos a Swat vai estar aqui. Pior que isso, em cinco segundos CLARICE vai estar aqui.
_Olavo, porra, cara! Eu não joguei a sua irmã lá de cima! Ela pulou! A doida pulou!
_Seu escroto imbecil, quem você pensa que é pra chamar minha irmã de doida!??
_Então tá: A pessoa perfeitamente normal que é sua irmã PULOU do prédio! Droga, cara! Eu SALVEI a vida dela!
_Não, Lacerda! Voce não salvou porra nenhuma. Tudo o que você fez desde que entrou nas nossas vidas foi FODER com a gente!
_Cara, isso tudo por causa de um vídeo?
_Não é a droga do vídeo, é a droga da sua VIDA! é a MINHA IRMÃ! O SEQUESTRO DE SOFIA!  MILHÕES DE REAIS! Tudo o que voce toca vira MERDA, Lacerda!
Segurei ele com toda a força que tenho. Sei que ele é forte, mas conhecendo-o bem, sei que não foi talhado para a luta. Não uma alma como a dele. Merda, sei que ele está certo em algumas coisas do que diz, mas vim aqui para dizer que agora todos nós podemos ...
Não vi a garrafa, eu juro. Ele foi rápido e instintivo, jogou-me um passo pra trás. Um maldito passo pra tras foi o suficiente pra metade daquela garrafa rasgar minha mão. Eu solto um grito de dor e caio no chão no momento exato em que a Swat entra na cozinha. Vermelho, tudo vermelho. Parece que entrei de repente num filme do Torantino. Ouços as vozes, os gritos, os passos. Não era a Swat.
Era bem pior que isso.
 Quando acordei, estava na minha antiga cama novamente, lá no Pub. Meu, não acredito que apaguei só por causa de um cortezinho na mão. Que frescura minha. O que pode estar errado comigo pra me fazer apagar desse jeito?
Ah, droga. É claro. A razão pela qual voltei. Pra avisar. Avisara eles que... Ah, não. Não não não não não não pode ser, burro, porque você tinha que derramar meu sangue, porque você tinha que...?
_Lacerda! - a voz de Clarice ecoa em minha cabeça. Minha mãe estava enorme, inchada, enfaixada, caída no canto da cama, latejando.
_Nessa casa nós vamos precisar de um ambulatório, meninos - dessa vez foi a voz de Sophie.
_Ele não vai precisar de um hospital, o corte não foi muito profundo - diz o sotaque carregado e "horrorroso" de Tina. Como é bom ouvir aquela Irlandesa novamente.
Mas a visão ainda estava turva. Só uma confusão de vozes ao meu redor. E eu me sentindo uma moça deitada na cama, desmaiada.
_Então porque ele não acorda? - a primeira vez que ouço Olavo. E pelo tom da voz dele, parece meio preocupado e meio feliz por ter me arrancado alguns gritos e sangue.
Tento balbuciar, mas nada vem. Deve estar soando engraçado, como um gago bêbado.
Apago novamente.
Quando abri os olhos, dou de cara com Olavo sentado ao lado da cama. E dessa vez, sem a  equipe da Swat:
_Então você ainda está vivo?
_Eu não diria isso com muita certeza - (que bom que é minha voz normal, sem uma bolha de sangue na garganta)
_Eu não quis matar você. Eu nunca mataria ninguém, eu acho.
_Esse é o tipo de coisa que a gente nunca sabe.
_Porque você fez isso tudo conosco? Não fomos bons amigos?
_Olavo... guarde bem essas palavras: Eu não vou mais pedir desculpas.
_Não quero desculpas. Suas palavras e seu... sarcasmo... sempre feriram a nós muito mais do que você pôde perceber.
_Eu sei. Mas eu parti justamente para resolver as questões factuais que nos envolveram nos ultimos meses. O roubo. O sequestro. Tudo está resolvido agora. Nem mesmo a polícia está atrás de mim. As pessoas que estavam atrás de mim por casua daquela grana estão todas mortas ou presas...
_Você...?
_Isso faz realmente alguma diferença?
_Droga, cara. Somos uma familia. E não gosto de você, assim como não gosto de parte da minha família. Mas o importante é podermos contar um com o outro, foda-se se morremos de amores.
_Eu concordo. Ai.
_Mas você nos meteu encrenca.
_Muitas.
_No entanto, você não nos deixou na mão. Nos ajudou a resolver, mesmo do seu jeito imbecil de resolver as coisas.
_Eu prefiro ser antipático que ser falso, Olavo.
_É, eu sei.
_E nem faço questão de uma legião de fãns.
_É, eu sei.
_Mas quando a coisa aperta, eu faço o que tenho que fazer.
_É, eu sei.
_E sinto muito pela sua irmã.
Olavo se cala e baixa a cabeça. Depois diz:
_Ela vai sobreviver.
_Sei que você não gosta nem um pouco de saber que ironicamente foi meu carro que salvou a vida dela. Que se eu não estivesse lá ouvindo Jhonny Cash, ela teria se esborracado no asfalto.
_Eu não vou agradecer você por isso.
_Nem deveria. Deve ser uma merda saber que o cara que você mais detesta e abomina é o responsável pela vida de sua irmã. MAs quer saber, cara?
_O que, Lacerda? Qual vai ser a ironia dessa vez?
_Talvez, apenas talvez, estacionar o carro embaixo daquele prédio tenha sido a melhr coisa que eu tenha feito em toda a minha vida. Porque graças a Deus, ela vai poder crescer e ter filhos, se casar... quem sabe até ser feliz.
_O que você está dizendo?
_Que no fundo de tudo, a gente se torna mesmo responsável por tudo aquilo que cativamos, como dizia a Raposa do Pequeno Príncipe.
_Você acha que vai me convencer com esse papinho new age, cara? Que vamos aceitar você numa boa, sem fazer perguntas?
_Eu não quero achar nada, nem pretendo ser aceito por ninguém. Só quero dizer que tudo está resolvido mesmo.
_E voltou aqui pra isso?
_Não, eu voltei pra quebrar o parabrisas do meu carro novo com uma suicida na puberdade.
_Estúpido.
_Bicha.
Nos encaramos por alguns segundos, sentindo o sangue ferver nos dois rostos. Tenebrosos momentos dentros dos olhos um do outro.

Depois simplesmente caímos na risada. Gargalhada. 
A Swat novamente entra esbaforida no quarto e nos flagra rindo... gargalhando juntos.

Não sei se foi falso ou verdadeiro. Mas confesso que foi o melhor nos últimos tempos.

4 comentários:

  1. Lacerda, vc vai se recuperar.
    uhauhahuhua

    Lá vai garrafadas de novo!
    Pelo menos não foi Clarice dessa vez!
    huauhahua

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  2. quando vcs vao postar de novo?

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  3. A gente postou ontem.. duas vezes! Se postar muito ideias não surgem e perde a graça da curiosidade! huauhahua

    Dan

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